quinta-feira, julho 31, 2003

BIBLIOTECAS

A nossa biblioteca é muito simpática. Quando queremos algum livro que não podemos ter, porque não foi escrito ou porque não existe, inventamo-lo - o título e o conteúdo.

RRP
Função Pública (12) - "In itinere"

Há os acidentes em serviço. E também há os acidentes "in itinere", ocorridos "no caminho" para o serviço. Estes são assim classificados depois de profundos pareceres jurídicos, pois não é qualquer tropeção que merece ser considerado acidente "in itinere". Foi precisamente no caminho para o serviço que a cena ocorreu. Na rotunda, seguia na faixa na direita, "pisca" para a direita. Pela mesma direita, a camioneta surgiu subitamente, meia na faixa de rodagem, meia em cima do passeio. Pé no travão, ligeiro toque na buzina. "Então como é?". A resposta do condutor da camioneta, excitado com a perícia da sua manobra, olhar sobranceiro para o carrito que mal chegava à altura dos pneus do seu bólide, veio em português vernáculo. Obviamente que abri alas. Não houve nenhum acidente. E mesmo que houvesse, não seria classificado de "in itinere".

P.S.
Hoje o Hipatia está novamente em festa. Desta vez, é Trois Couleurs que vai
assoprar velas. Muitos parabéns.

Manga de Alpaca
O CALOR QUE VEIO PARA FICAR

Parece que este calor veio mesmo para ficar. Deram 38 graus de máxima... hoje o meu melhor amigo será o ar condicionado! E o dia ainda agora começou.
O "cheiro" a férias paira no ar... começo a fazer a minha contagem decrescente, e só faltam 24 dias.

JSV
A BANHOS

...porque o calor aperta. Cada vez mais.


Do the Right Thing de Spike Lee, 1989

RBL

quarta-feira, julho 30, 2003

SONHAR ACORDADO

Por qualquer razão que desconheço os dias de grande calor levam-me sempre à memória dos filmes policiais, às lines cortantes de Bogart ou Mitchum. Como em The Big Sleep:

Vivian: Why did you have to go on?
Marlowe: Too many people told me to stop.


RRP
Função Pública (11) - A Comissão

A informação consta, discretamente, no anúncio dos filmes. "Maiores de 4, 6,12,16 ou 18 anos".Às vezes também também consta que o filme tem "Qualidade", e outras, que é "Pornográfico". Podemos ver a mesma discreta informação no anúncio dos espectáculos de teatro, nos videos. É esse o trabalho da Comissão de Classificação de Espectáculos, que funciona no Ministério de Pedro Roseta, e que tem escapado, incólume, aos propósitos das extinções, fusões e reestruturações que norteiam o Governo. Trabalho útil e meritório, portanto, o desenvolvido pela CCE. Não obstante, o Público divulgou há tempos ser intenção do Governo criar uma Comissão para Classificação dos Programas de Televisão. O que faz sentido, em face dos propósitos moralizadores que igualmente norteiam o Governo. A ser assim, estaremos perante uma das seguintes hipóteses: 1-Pedro Roseta não sabe da existência da CCE; 2-Pedro Roseta sabe, mas esqueceu-se de avisar os seus pares (coisas que acontecem a quem tem por hábito ler Séneca antes de adormecer); 3- Todos sabem, e então o que se passa é que já ultrapassámos a fase das extinções, fusões e reestruturações. Entrámos na fase das multiplicações. Onde é que eu já vi este filme?

Manga de Alpaca
DA ANGÚSTIA E OUTROS SENTIMENTOS RECREATIVOS (3)

Impaciência, impatience, impacience, ...

A impaciência é um sentimento difuso, muitas vezes confundido com a ansiedade, a angústia ou o desespero. É a causa de muitos desastres e de muitos milagres. De reuniões antecipadas, de partidas bruscas, de vigílias interrompidas, de paraísos perdidos. De palavras insensatas, de fins abruptos, de príncipios inesperados.

Perhaps there is only one cardinal sin: impatience. Because of impatience we were driven out of Paradise, because of impatience we cannot return.

W. H. Auden

RRP
ENCOMENDA DE PEGGY GUGGENHEIM A JACKSON POLLOCK

Tela 2,5m x 6m; Técnica e tema livre; Para a entrada da sua nova casa.


Pollock de Ed Harris, 2000.

RBL

terça-feira, julho 29, 2003

AMORES AUSENTES OU O ELOGIO DOS BLOGGERS

Dizem-me que este é um post delicado. Arrisco, apesar disso.
Anda por aí uma discussão sobre a ausência do tema do amor na blogosfera. Eu tenho uma tese sobre o assunto (que é duplamente arriscada porque o argumento envolve uma série de generalizações).
Quem gosta de escrever (escrever bem, entenda-se) sabe que existem assuntos perigosos como a morte, o dinheiro, o gosto (o bom e o mau), os afectos - e o amor. Quem «bloga» prefere escrever sobre política, cinema, literatura ou música. Se não o fizer, o «blogger» sabe que corre o risco de parecer (ser?) piroso, pretensioso, ridículo, patético, poético... Português, em suma.

SBL

PS: Devo dizer que aqui no Hipatia ainda há pouco fiz uma declaração de amor.
HILARY À SEGUNDA, BOTELLA À TERÇA

Vi ontem à noite na RTP a senhora Clinton dizer pela enésima vez que lhe apeteceu apertar o pescoço ao marido (não percebi muito bem o que é que levou a televisão pública portuguesa a comprar aquela entrevista, perdão, aquele exemplo de pura propaganda). Hoje na SIC vou ver a senhora Ana Botella que - a bem dizer - só conheço das páginas do «social». Vamos ver qual das duas se sai melhor.

SBL
ESQUERDA, DIREITA, VOLVER

No Abrupto leio os argumentos de JPP contra o Rendimento Mínimo Garantido (resumindo, considera JPP que o RMG tem efeitos perversos). No Blog-de-esquerda vejo Daniel Oliveira lamentar os destinos da revolução cubana (pensa DO que esta foi desvirtuada). Confesso que há muito que me sinto neste equilíbrio instável entre a direita e a esquerda. E hoje - quando eu já quase não esperava uma resposta às minhas inquietações político-económico-sociais - eis que ouvi: «Adoro bater na esquerda, mas detesto agradar à direita». Tenho pena de não ter sido eu própria a dizer a frase (e que frase!). Mas já fiquei feliz por a ter escutado de boca alheia. Daqui em diante nunca mais me sentirei tão sozinha. Afinal, o que é que nos separa, RRP?

SBL
EM QUE É QUE FICAMOS?

No Iraque não se toca (esqueçam a tontice das Armas de Destruição Maciça), mas na Libéria temos o dever de ingerir!?
Por favor decidam-se.

RRP
O PAÍS-DEBATE

No Público:
"Conselho de Ministros debate desemprego no Porto"

Não será um pouco tarde?

RRP


ACORDAR TARDE

Acordei cedo.
Dizem-me então que a terra já tremeu!... Não assisti.
São 10.30 e cheguei ao Chiado. Está tudo na mesma.
Descansei. Deve ter tremido muito pouco.

RBL
Função Pública (10) - O Livro de Ponto

A sua criação data de 1931. É o modelo nº 432 , exclusivo da Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, e o formato do papel é o modelo nº 18,
correspondente a 1 1/4 A4 - 262mm x 297 mm. Deve haver um para o pessoal
maior, e outro para o pessoal menor, ou com outra designação apropriada.
Conheci o Livro de Ponto a ser respeitosamente rubricado 4 vezes por dia, à
entrada e à saída da manhã e da tarde. Fixávamos a número da folha onde
constava o nosso nome, para facilitar a sua localização. A abertura do Livro
de Ponto, quer dizer, o preenchimento dos cabeçalhos, etc., era campo para
revelação de talentos em caligrafia. Depois de todo preenchido, as folhas do
Livro de Ponto estavam gastas, puidas, de tão folheadas. Hoje, os tempos
mudaram. A caligrafia já não faz parte dos curricula escolares. Somos muito
menos a folheá-lo (estranho, não é, Drª Manuela? Mas é verdade). Passou a
ser rubricado em "packs" dum dia, ou  até de mais. Talvez porque "A formiga,
no carreiro, vai em sentido contrário".
Hoje, depois de completo, o Livro de Ponto está quase novo.

Manga de Alpaca
HÁ DIAS ASSIM...


The Shawshank Redemption de Frank Darabont, 1994

RBL

segunda-feira, julho 28, 2003

O PAÍS HETERÓNIMO

No Público:
O primeiro-ministro elogiou hoje em Pombal a confiança do "país real" na retoma económica do país, lamentando que o mesmo não suceda com o "país político".

O que digo eu, quando digo "neste país"? Por favor, alguém que me indique um GPS metafísico.

RRP
FLASHBACK

Sobre as dúvidas do auxílio à Finlândia, atacada pela URSS, no começo da 2ªGuerra Mundial, Churchill, então Lorde do Almirantado, dizia:
"Será a Humanidade, não a Legalidade, o nosso Juiz."
Bush e a sua Administração são ignorantes, inábeis e arrogantes. Bastava citar Sir Winston e teriam poupado toda esta trapalhada-palhaçada das Armas de Confusão Maciça.

RRP
PORQUE É QUE EU NÃO HAVERIA TAMBÉM DE PEDIR?

Quero ver se hoje consigo passar pela junta de freguesia para me passarem um certificado que ateste da minha heterossexualidade.

SBL
READER'S BLOCK

Termino um bom livro. Não um grande livro. Um livro que me deixou satisfeito.
Só isso.
Apenas isso.
Percorro as estantes.
Nada.
Forço-me. Faço conjecturas - Poesia? Ficção? Ensaio? BD? FC? O quê?
Nada.
Dormir, talvez sonhar...

RRP
DO THE RIGHT THING

A semana já começou.
A temperatura está a subir.
Está muito calor.
Cada vez mais.


Do the Right Thing de Spike Lee, 1989

RBL

sábado, julho 26, 2003

VINS ET LIQUEURS

Retrato de uma cidade - Paris.
Do dia e da noite. Dos sons e das cores.
Belíssimo.


Sous les Toits de Paris de René Clair, 1930

RBL

sexta-feira, julho 25, 2003

RESPOSTA (QUASE) FILOSÓFICA À INTERROGAÇÃO (QUASE) FILOSÓFICA DE ONTEM

«We read to know that we are not alone»
C.S.Lewis

SBL
MARESIAS 2

O MAR

Ondas que descansam no seu gesto nupcial
abrem-se caem
amorosamente sobre os próprios lábios
e a areia
ancas verdes violetas na violência viva
rumor do ilimite na gravidez da água
sussurros gritos minerais inércia magnífica
volúpia de agonia movimentos de amor
morte em cada onda sublevação inaugural
abre-se o corpo que ama na consciência nua
e o corpo é o instante nunca mais e sempre
ó seios e nuvens que na areia se despenham
ó vento anterior ao vento ó cabeças espumosas
ó silêncio sobre o estrépito de amorosas explosões
ó eternidade do mar ensimesmado unânime
em amor e desamor de anónimos amplexos
múltiplo e uno nas suas baixelas cintilantes
ó mar ó presença ondulada do infinito
ó retorno incessante da paixão frigidíssima
ó violenta indolência sempre longínqua sempre ausente
ó catedral profunda que desmoronando-se permanece!


in Facilidade do Ar de António Ramos Rosa, Caminho, 1990

RRP
Função Pública (9) - O Rótulo do Frango - Capítulo II

No Pingo Doce, o cidadão escolhe um frango. Vê o preço, "consumir antes de".
"Levo este". Se olhasse para o rótulo, veria que o Director do GPPAA teve o
cuidado de o informar que se trata de  uma "Ave de produção controlada com a
idade mínima de abate de 81 dias, alimentada à base de vegetais". Mas não
olhou. O trabalho do Director do GPPAA não teve visibilidade.

Manga de Alpaca
Função Pública (9) -O Rótulo do Frango - Capítulo I

O Diário da República explica tudo muito direitinho. O Director do Gabinete
de Planeamento e Política Agro-Alimentar autorizou o "Pingo Doce" a utilizar
o rótulo "Frango do Campo Pingo Doce". Mas o rótulo não pode ser feito de
qualquer maneira. Minuciosamente, o Director do GPPAA determina, entre
outras coisas, que "o rótulo tem a forma ovalizada marginada por uma
bordadura em relevo de cor em dourado, apresentando dois estrangulamentos,
situando-se um na parte superior e outro na parte central. Apresenta em
fundo e à esquerda a configuração do perfil de um galinácio em cor preta,
igualmente marginada por uma bordadura em dourado e em relevo. À direita
apresenta a configuração de um campo de cereais em cor amarelo dourado".

Manga de Alpaca
REACÇÃO

A blogosfera está activa. Aqui e ali contam-se visits e page views.
Os outros - os jornais - começam também a manifestar-se.
...e ainda agora estamos no início.


Dut yeung nin wa (In the mood for Love) de Wong Kar-wai, 2000

RBL

quinta-feira, julho 24, 2003

INTERROGAÇÃO (QUASE) FILOSÓFICA

Por que razão lemos tantos livros se nunca conseguiremos lembrar-nos de tudo o que lá está dentro?

SBL
COMPANHEIROS DE LETRAS 2

Some books are undeservedly forgotten; none are undeservedly remembered.

W. H. Auden

RRP
Função Pública (8) - O Excel

Já não era possível adiar mais. Os computadores tinham chegado às nossas
secretárias. Não podiamos combatê-los, tinhamos que aprender a viver com
eles. Voltámos aos bancos da escola, soletrámos palavras no teclado,
entrámos nos segredos do "enter", do "delete", do "copy paste". Até que
chegámos ao Excel. Vimos colunas, linhas, células, fórmulas. Os totais a
aparecer como que por milagre. E foi aí que o zeloso colega com a obrigação
de bem gerir os dinheiros públicos, se rendeu aos encantos da tecnologia.
Maravilhado, exclamou: "que giro, já posso controlar os gastos com os
telemóveis!". Bendito Excel, não é, Drª Manuela?

Manga de Alpaca

DA ANGÚSTIA E OUTROS SENTIMENTOS RECREATIVOS (2)

Ansiedade, anxiety, inquiétude, ...

A ansiedade pode ser feliz, triste, terrífica ou jubilosa, provocada por temor ou impaciência, por amor ou ódio.

Her Anxiety

Earth in beauty dressed
Awaits returning spring.
All true love must die,
Alter at the best
Into some lesser thing.
Prove that I lie.

Such body lovers have,
Such exacting breath,
That they touch or sigh.
Every touch they give,
Love is nearer death.
Prove that I lie.


William Butler Yeats

RRP
'PANTAGRUELICES'

Quem me conhece sabe que culinária não é o meu forte. Apesar disso, gosto de uma pasta cozinhada pelo RRP, de um arroz de gambas feito pela minha mãe e de umas lulas bem apuradas pelo gosto da minha avó (dos três - sem desprezar as excelentes qualidades dos primeiros - a melhor cozinheira). A partir de hoje, contudo, tudo vai mudar. A edição de hoje do Diário de Notícias ensina-me - pela mão de Joaquim Figueiredo, chefe de cozinha e consultor gastronómico da Enatur-Pousadas de Portugal - «a desmanchar um coelho». Passo a passo, com a ajuda de quatro fotografias (que o Hipatia não reproduz), eis as etapas a seguir:

1) Limpar
Limpe o coelho de miudezas, peles e excesso de gordura

2) Desmanchar
Corte as patas traseiras, o vão das costelas e a cabeça (que geralmente não é aproveitada)

3) Lombos
Do vão, podem ser retirados os lombos, que em certas receitas se servem recheados

4) Final
O coelho desmanchado pode ser cozinhado de diversas maneiras: as patas em confit, as partes mais secas (como as costas) grelhadas, o vão estufado, assado ou guisado, as miudezas espetadas grelhadas, etc.

Acrescento meu: desejo bom apetite aos bloguistas.

SBL
A MINHA ESTANTE

A minha estante não é, nem se pretende que seja, igual às outras.
Ontem, quando fui buscar o meu 60º livro da Colecção Mil Folhas do Público, ao quiosque habitual, deixei lá o 61º.

JSV
DE FORMA SIMPLES

Há lugares onde os crimes são como as cerejas.
É também uma sorte que os criminosos sejam pouco dados à perfeição do acto.
Lá longe, nesta realidade (que também existe), incriminam-se a eles próprios e nunca resolvem a contenda de uma só vez.
Estarão a tentar proteger-se?


Blood Simple de Joel e Ethan Coen, 1984

RBL

quarta-feira, julho 23, 2003

MAIS PÚBLICOS, MENOS CULTURA

Comove-me sempre a sinceridade daqueles que criticam os subsídios à cultura e ficam impávidos, ou mesmo entusiasmados com os subsídios à banca, às empresas, à agricultura, à ecologia, à igreja, ao escutismo, ao casamento, ao divórcio, aos partidos, às partidas, às chegadas, aos velhos, aos novos, aos transportes, aos táxis, aos .................................................................
........................................................................................................................
........................................................................................................................


RRP
OS PÚBLICOS

O hardblog e o dedireita postam sobre política cultural, a subsidiodependência e a necessidade de criar públicos (hardblog). No entanto não apresentam o manual de criação dos ditos. Sei das dificuldades da criação de perdigueiros, frangos, ovelhas e porcos, mas ingenuidade minha, pensava que na sua maior parte os públicos já estavam criados (excepção feita aos do teatro infantil). Sem qualquer base científica, estou em condições de aconselhar alguns métodos:

Método Laranja Mecânica - indução cultural forçada.
Método Expo - exposição prolongada em espaço amplo.
Método Marketeer - Para cada museu, um hipermercado. Para cada teatro, um parque de diversões. Para cada livraria, um bar cool.
Método Nitrofurano - contaminação de LSD nas pipocas dos cinemas de massas.
Método Sei Lá - audição forçada dos livros de Margarida Rebelo Pinto pela voz de João Baião.
Método Acontece - indução subliminar em estado REM.

De qualquer maneira, se alguém encontrar um Manual de Publicultura, por favor envie-nos a referência.

RRP
Função Pública (7) - Allez, allez, Poupou

Raimond Poulidor. Ciclista. "Poupou" para os franceses, que o idolatravam e o incitavam ao longo do Tour com o grito de "allez, allez, Poupou". Por estranha associação, "Poupou"  veio-me à ideia a propósito de Pedro Roseta. "Poupou", vigoroso, a trepar os Alpes, apoiado pela multidão. Glorificado no final de cada vitória. Pedro Roseta, frágil, a trepar ao Palácio da Ajuda, vergado ao peso dos dossiers (vazios), sem forças para o combate orçamental, sozinho. Não é justo. Pedro Roseta merece apoio na sua penosa caminhada: "allez, allez, Poupou".

Manga de Alpaca
REVISTA DE IMPRENSA (ASSUNTO SÉRIO)

Leio hoje notícia de ontem contando que a ETA iniciou a sua «campanha de Verão» na costa espanhola. Não há região - federal, de facto, não fora os «anti-corpos» da palavra - com mais autonomia que o País Basco. Como é possível continuar a argumentar?

REVISTA DE IMPRENSA (ASSUNTO A BRINCAR)

A página «Pessoas» do Diário de Notícias lembra-me que George W. Bush passou dois dias com Silvio Berlusconi no seu rancho de Crawford. Informa-me depois o diário que o presidente dos EUA tem um cão chamado Barney (cuja fotografia devidamente se publica).

SBL
DA ANGÚSTIA E OUTROS SENTIMENTOS RECREATIVOS (1)

Angústia, angoisse, angst,...

A primeira angústia advém na infância, ou no final dela, quando nos damos conta da inevitibilidade da morte e da nossa própria finitude. Ou então quando no jogo do recreio nos metem à baliza e o palerma à nossa frente faz falta, e então sim, temos a angústia do guarda-redes no momento do penalty...

Angoisse.

Je ne viens pas ce soir vaincre ton corps, ô bête
En qui vont les péchés d'un peuple, ni creuser
Dans tes cheveux impurs une triste tempête
Sous l'incurable ennui que verse mon baiser:

Je demande à ton lit le lourd sommeil sans songes
Planant sous les rideaux inconnus du remords,
Et que tu peux goûter après tes noirs mensonges,
Toi qui sur le néant en sais plus que les morts:

Car le Vice, rongeant ma native noblesse,
M'a comme toi marqué de sa stérilité,
Mais tandis que ton sein de pierre est habité

Par un coeur que la dent d'aucun crime ne blesse,
Je fuis, pâle, défait, hanté par mon linceul,
Ayant peur de mourir lorsque je couche seul.


Poésies de Stéphane Mallarmé.

RRP
E 2001 JÁ PASSOU


2001: A Space Odyssey de Stanley Kubrick, 1968

RBL/SBL

terça-feira, julho 22, 2003

Função Pública (6) - O "tableau de bord"

Lá estavam elas, as folhas de papel ALMAÇO quadriculado. Presas na parede
com fita-cola. Traços vermelhos, verdes, tarefas feitas e por fazer.

O Ministro, sensibilizado, ordenou: "comprem um quadro às senhoras". Assim,
"um quadro". Não um "tableau de bord". Talvez por purismo linguístico,
talvez por respeito para com elas, as folhas de papel ALMAÇO quadriculado.

Yes, Minister, as senhoras tiveram "um quadro". E imans de muitas cores.

O Ministro foi para outros cargos, esteve no estrangeiro,
internacionalizou-se. Voltou. Vai comandar a reforma da Administração.

Vamos receber muitos "tableaux de bord".

P.S.
Hipatia está em festa. Todos desejamos a Blue Velvet muitas felicidades,
muitos anos de vida.

Manga de Alpaca
'IL CAVALIERE' NÃO É MESMO NADA PARVO

Pergunta da TIME: What do you think of german tourists?
Resposta de Silvio Berlusconi: Ich bin ein Berliner.

SBL
FLY ME TO THE MOON

(...)
In other words,
I love you.



Space Cowboys de Clint Eastwood, 2000

RBL

segunda-feira, julho 21, 2003

ISTO É QUE É UMA NOTÍCIA EM PRIMEIRA MÃO

Soube agora mesmo que «o público alvo» das Doce eram as crianças (Laura dixit em entrevista à SIC Notícias). Passem palavra.

SBL
UMA QUESTÃO EUROPEIA

Reagiram no entrepedras ao meu «Post politicamente incorrecto». É neste território - cujas fronteiras territoriais ninguém sabe bem definir - que me encontro. E por enquanto fico-me por aqui.

«Toute race et toute terre qui a été successivement romanisée, christianisée et soumise quant à l'esprit à la discipline des Grecs est absolument européenne».
Paul Valéry

PS: Um pormenor com toda a importância: eu não disse que nada me irritava mais do que o conceito da lusofonia. O que eu disse foi que poucos conceitos me irritam tanto como o da lusofonia. Ou seja, a lusofonia não é propriamente o meu ódio de estimação...

SBL
O SENHOR SORIANO

Al mediodía, tres viejos músicos se guarecen bajo el toldo de un café en la Piazza San Marcos, y tocan. Los turistas no escuchan, pero toman cerveza, refrescos. Los sonidos del violín, el piano, el contrabajo, intentan piezas de moda, alegres, simples. No hay caso: el ritmo es triste, amargo y nadie aplaude. Los viejos miran a los turistas con una cierta indiferencia. Las palomas descienden sobre las mesas, picotean. Bufalini sonríe: "Napoleón dijo una vez que esta plaza era el más bello salón de Europa" De pronto cambia de expresión, mira a i musici y dice en voz baja: "Thomas Mann puso acá a su personaje porque sintió algo que nosotros sentimos siempre. Venecia es el único lugar del mundo donde se muere sin dolor. Ojalá nos dejen".

in Artistas, locos y criminales - El detective Giorgio Bufalini y la muerte de Venecia de Osvaldo Soriano

RRP
Função Pública (5) - "Ela"

São as revistas do social que o dizem. "Ela" esteve aqui, "Ela" foi ali,
"Ela" compareceu acoli. "Ela" também exerce a função pública. Também é o
social que o diz.
Como é que "Ela" concilia o serviço com a comparência em tanto evento?
"Mete" férias? Não creio, as férias d' "Ela" são em Agosto, mês "in".
"Mete" um artigo 65º? Ricá, que coisa mais pindéricá! Um impresso cheio de
artigos! Nem mortá!
Como será? De forma "Profissionalmente correcta", seguramente.

Manga de Alpaca
O DECLÍNIO DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL

Freios em riste, travagem breve, insulto certo, buzinadela afirmativa.
Em Lisboa, um grupo de Suiços atravessa uma passadeira com o sinal vermelho.
Ainda não estou em mim.
A minha alma está parva.


RRP
TOMÁS PALMA BRAVO, O DELFIM

Aninhas, já não há whisky nesta casa?
Que eu saiba, nesta casa há sempre whisky, menino.



Delfim de Fernando Lopes, 2002

RBL

domingo, julho 20, 2003

O FIO DOS DIAS (LÁ LONGE)

Aqui os dias passam-se a jogar mahjong, a beber chá, a tomar banho.
Com os arranha-céus já não se travam lutas de grilos, porque estes não sobrevivem nas alturas.


Shower de Zhang Yang, 1999

RBL

sábado, julho 19, 2003

AGENDA

Dia 28 chega até nós o disco de Carla Bruni (lembraram-se que era capaz de valer a pena...). Atenção aos comentários sobre o registo intimista das canções. A eles, a senhora já respondeu - alguém me explica como é que faz para não ser intimista? Esta também podia ser uma conversa sobre blogs.

SBL
MARESIAS

«Outros mares se movem no mar profundo, / estes seguem para as alvoradas, aqueles para os crepúsculos; / as vagas altas seguem para o Meio-Dia, as mais baixas para o Setentrião. / Rente à superfície escura, fogem as correntes em todos os sentidos, / no fundo rolam muitos rios subterrâneos»

O Sonho de Melamp (extracto), Viatcheslav Ivanovitch Ivanov

RRP

sexta-feira, julho 18, 2003

COMPANHEIROS DE LETRAS

What I like best is a book that's at least funny once in a while...What really knocks me out is a book that, when you're all done reading it, you wish the author that wrote it was a terrific friend of yours and you could call him up on the phone whenever you felt like it. That doesn't happen much, though.

J. D. Salinger

RRP
FUNÇÃO PÚBLICA (4) - O bloco-calendário


Todos os anos, no início, nos dão um bloco-calendário. Novinho em folha, protegido por papel celofane. Também temos as bases para colocar o bloco-calendário. Umas de plástico, outras de madeira. A minha é de plástico. Tive azar, porque as de madeira são mais bonitas.
Apenas com uma leve inclinação do olhar, o bloco-calendário permite-nos saber em que dia estamos. Apurando um bocadinho mais a vista, ou recorrendo aos óculos, quando esta já vai ficando cansada, podemos saber a semana, quantos dias já passaram, quantos faltam para o fim do ano e, ternamente, saber qual o santo do dia.
Pois é. Graças ao meu bloco-calendário, sei que hoje, dia 18 de Julho, estamos na semana 29, já passaram 199 dias, e faltam 166 para o ano terminar. E é o dia de S. Frederico.
O bloco-calendário dá o aconchego de não exigir nem "pins", nem "passwords" para ser utilizado. Tem uma cor suave, nada que se pareça com os cores berrantes dos "post-its". É pequenino, calhado para as notas do nosso quotidiano. Folheando o meu bloco-calendário, eu relembro o dia em que tive consulta no dentista, o dia em que dei os parabéns à tia Tereza pela passagem de mais um aniversário, ou o dia em que tive que fazer um telefonema para a empregada.
O bloco-calendário acompanha-me desde que me dedico ao exercício da função pública. Não consigo imaginar a minha secretária sem ele.

Manga de Alpaca
FORMA E CONTEÚDO

Os matemáticos também podem preferir a forma ao conteúdo. Como os políticos, tornar uma proposição simples num discurso inflamado.




RRP
UMA CERTA IDEIA DA AMÉRICA

Perfeição. Afinal tudo é possível.
Podemos explodir isto e aquilo. Várias vezes.
Produção americana. Pois claro.


Zabriskie Point de M. Antonioni, 1970.

RBL

quinta-feira, julho 17, 2003

'POST' POLITICAMENTE INCORRECTO

Pouco «conceitos» me irritam tanto como o da lusofonia, cujo dia - soube há pouco - hoje se comemora.

SBL
FUNÇÃO PÚBLICA (3) - As "formalidades"

O Tribunal Constitucional considerou que as novas regras de aposentação para a função pública são inconstitucionais. Porque não foram foram ouvidas as estruturas representativas dos trabalhadores.
O Governo, pela voz da Ministra das Finanças, reconhece que não cumpriu essa "formalidade", e anuncia que vai corrigir a situação.
O Governo, pela voz do 1º Ministro, ele próprio, garante que tem a certeza que a norma é constitucional, certeza esta que lhe vem do facto de ser licenciado em Direito e docente da matéria. Só houve o problema da "formalidade".
Que sorte termos um 1º Ministro licenciado em Direito e docente destas matérias!
Ou seja, o que se passou é que o Governo esteve vigorosamente a legislar, firme nos seus propósitos e grudado às suas convicções, quando, na esquina, matreiramente, surgiu a inoportuna "formalidade"!
Ah! Mas nada demoverá o Governo!
Ao bom estilo do Prof. Cavaco, a Ministra das Finanças já anunciou o seu plano de acção: ouvirá os sindicatos (não muito, porque tem mais que fazer), se não houver acordo pior para eles, porque a regra é assim, e pronto.
O Governo tem razão. As "formalidades" são uma maçada.

Manga de Alpaca
OH MANUELA

Sir Humphrey: "Minister, you said you wanted the administration figures reduced, didn't you?"
Jim Hacker: "Yes."
Sir Humphrey: "So we reduced the figures."
Jim Hacker: "But only the figures, not the number of administrators."
Sir Humphrey: "Well of course not."
Jim Hacker: "Well that is not what I meant."
Sir Humphrey: "Well really Minister, one is not a mind-reader, is one? You said reduce the figures, so we reduced the figures."

RRP
O CONCÍLIO DE THULE &&A&&
(Anais de História da Biblioteca, Tomo XXII)

O conselho de Sábios da Comunidade, reunido em acto decisório, dispõe:

À mão que segura a arma passaremos a chamar Lupar. Sugestões houve de adoptar a designação meridional - manu dextra - mas foram derrotadas por inequívoca votação. Ficou registada a objecção de alguns sobre a possível dificuldade de entendimento desta comunidade com os povos exteriores.

À mão que dirige o cavalo passaremos a chamar Kuarde. As objecções acima descritas voltaram a ser lavradas nas tábuas deste concílio.

RRP
E AFINAL... Paris qui dort

...Paris e o mundo tinham parado.
Engano de cálculos do Professeur Ixe.
O guarda estava a salvo pela altura da Torre Eiffel.
Reposto o movimento, outros descobriram as possibilidades deste invento.
Como sempre...


Paris qui dort de René Clair, 36 min, 1924.

RBL
A PROPÓSITO DE CIDADES (4)

Mas foi inutilmente que parti em viagem para visitar a cidade: obrigada a permanecer imóvel e igual a si própria para melhor ser recordada, Zora estagnou, desfez-se e desapareceu. A Terra esqueceu-a.

"As Cidades Invisíveis" de Italo Calvino, trad. de José Colaço Barreiros, Teorema

JSV

quarta-feira, julho 16, 2003

POST ATRASADO

Comentar ou não comentar a entrevista de Pedro Roseta ao Expresso? Confesso que andava a lutar contra mim própria. Mais tarde o RBL acabou por aqui escrever sobre a mesma - e eu desisti. Muitos dias depois a minha vontade regressou (o que prova que não vale a pena hesitar nos posts). Aqui segue então esse post atrasado.
Já muito se disse sobre as (excelentes) fotografias que Luiz Carvalho tirou de Roseta. Na que abre a prosa, vemos - em «picado» - uma secretária com muitos telefones (uma central telefónica?), uma impressora (mas nenhum computador) e lá atrás, por baixo de umas estantes muito bonitas, um aquecedor a óleo. Surgiu-me a dúvida que agora coloco: diga lá, senhor ministro, existe ou não uma escalfeta por baixo da sua secretária?

SBL
OLD FRIENDS 6
(livros de culto - algures num armazém perto de si)

versão portuguesa
Epistolário russo - de Brejnev a Jirinovski de Predrag Matvejevitch, trad. de Pedro Tamen, introd. Robert Bréchon. Quetzal, 1995.

versão francesa
Épistolaire de l'autre Europe de Predrag Matvejevitch, trad. Mireille Robin e Mauricette Begic. Fayard, 1993.


Class: Aparições frequentes

RRP
Função Pública (2) - O Diário da República

Eram longos corredores povoados de "contínuos", com garbosas fardas cinzentas. Todos os dias, o ritual repetia-se. A meio da manhã, os "contínuos" (em rigor, eram quase sempre "contínuas") procediam à mesma tarefa: abrir o Diário da República. "Zic, zic, zic, zic", o som das faquinhas de papel a cortar as folhas do Diário da República sibilava nos corredores das "Repartições". Hoje, os tempos mudaram. Os "contínuos" passaram a "auxiliares administrativos". São muito menos. Já não vestem farda. A Imprensa Nacional entrega o Diário da República com as folhas já cortadas, prontinho a ser lido. Já não se ouve o"zic, zic, zic, zic". A função pública modernizou-se. Ainda bem. Já não é preciso comprar tantas faquinhas de cortar papel. Cortou-se nessa despesa.

Manga de Alpaca
OLD FRIENDS 5
(livros de culto - algures num armazém perto de si)


versão portuguesa
Pensamentos de Marco Aurélio, trad. e pref. de António Sérgio. Ática, 1947.

Class: Presumivelmente extinto

RRP
IMPORTAM-SE DE REPETIR?

Há genéricos que valem pelos filmes (e pelos bilhetes...).
Ou melhor, houve tempos em que assim foi.
Para os génios a tecnologia sempre foi entendida de outra forma.
Saul Bass foi (é) um génio. Preminger, Hitchcock e Scorcese sempre souberam disso.
Por favor passem a fita outra vez, mas só o início.


Genérico de Saul Bass para o filme "The Man With The Golden Arm" de Otto Preminger, 1955.

RBL
A PROPÓSITO DE CIDADES (3)

O homem que cavalga longamente por terrenos bravios sente o desejo de uma cidade. Finalmente chega a Isidora, cidade onde os prédios têm escadas de caracol incrustadas de búzios marinhos, onde se fabricam artísticos óculos e violinos, onde o forasteiro está indeciso entre duas mulheres encontra sempre uma terceira (...)
Assim Isidora é a cidade dos seus sonhos: com uma diferença. A vida sonhada continha-o jovem; a Isidora chega em idade tardia. Na praça há o paredão dos velhos que vêem passar a juventude; ele está sentado em fila com eles. Os desejos são já recordações.


"As Cidades Invisíveis" de Italo Calvino, trad. de José Colaço Barreiros, Teorema

JSV
OLD FRIENDS 4
(livros de culto - algures num armazém perto de si)

versão portuguesa
Antologia poética 1 de Nicolás Guillén, trad. Carlos Grifo. Editorial Presença, 1970. (Forma ; 3)

versão portuguesa
O grande zoo de Nicolás Guillén. Centelha, 1973. (Nosso tempo ; 8)

Class: Presumivelmente extintos


RRP


OH BLAIR

Sir Humphrey: "Bernard, Ministers should never know more than they need to know. Then they can't tell anyone. Like secret agents, they could be captured and tortured."
Bernard: "You mean by terrorists?"
Sir Humphrey: "By the BBC, Bernard."

RRP

terça-feira, julho 15, 2003

OLD FRIENDS 3
(livros de culto - algures num armazém perto de si)

versão italiana (original)
Sentimento del tempo 1919-1935 de Giuseppe Ungaretti . Arnoldo Mondadori, 1971. (Le Specchio)
versão portuguesa
Sentimento do tempo de Giuseppe Ungaretti, trad. de Orlando de Carvalho . Dom Quixote, 1971. (Cadernos de poesia ; 17) .

Class: Presumivelmente extinto

RRP
OLD FRIENDS 2
(livros de culto - algures num armazém perto de si)

Retrato de um amigo enquanto falo de Eduarda Dionísio. Quimera, 1988.

Class: Aparições esporádicas

RRP
FUNÇÃO PÚBLICA 1

EPC dialogou paternalmente com Pedro Roseta. Onde terá decorrido o diálogo? No além? Num mosteiro tibetano? Se EPC descer à Terra, verá que o exercício da função pública no Ministério de Pedro Roseta é um imenso vazio.

Manga de Alpaca
NEW FRIENDS 1
(livros de culto - algures num prelo perto de si)

Nunca teremos Paris de Clara Ferreira Alves, Dom Quixote, 2004,5,6,7,8,9,10,...?
Só pelo título vale a pena a espera. Entretanto temos as prosas.

RRP
A PROPÓSITO DE CIDADES (2)

É desta onda que reflui das recordações que a cidade se embebe como uma esponja e se dilata. Uma descrição de Zaira tal como é hoje deveria conter todo o passado de Zaira. Mas a cidade não conta o seu passado, contém-no como as linhas da mão, escrito nas esquinas das ruas, nas grades das janelas, nos corrimões das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos postes das bandeiras, cada segmento marcado por sua vez de arranhões, riscos, cortes e entalhes.

"As Cidades Invisíveis" de Italo Calvino, trad. de José Colaço Barreiros, Teorema

JSV
HÁ (OU HOUVE) DIAS ASSIM

O dia já começou. Ninguém sobe à Torre Eiffel. O guarda, que vive lá em cima, estranhou o dia.
Farto de esperar desceu à cidade.
Paris tinha parado. Estava tudo imobilizado.
Tudo e Todos.


Paris qui dort de René Clair, 36 min, 1924.

PS:A razão desse dia estará também no Hipatia, ansiosamente.

RBL

segunda-feira, julho 14, 2003

A OUTRA FACE

PRD voltou atrás e o DNA publicou uma página de Bloguices. Fica-lhe bem.
Aqui deixamos a devida vénia.

RRP
A PROPÓSITO DE CIDADES (1)

Kublai Kan escutava os relatos de Marco Polo sem mexer as sobrancelhas.
-As tuas cidades não existem. Talvez nunca tenham existido. Seguramente já não existirão. Porque te entreténs com histórias consoladoras?

"As Cidades Invisíveis" de Italo Calvino, trad. de José Colaço Barreiros, Teorema

JSV
OLD FRIENDS 1
(livros de culto - algures num armazém perto de si)

versão inglesa (uma de várias)
The Hitchhiker's Guide to the Galaxy de Douglas Adams, Ballantine Books
versão portuguesa
Uma boleia para a galáxia de Douglas Adams, tradução de Maria Nóvoa . Distri, 1984. (Presença do futuro;1).

Class: Presumivelmente extinto

RRP
WORKING DAY

"A nossa sede tem 31259 empregados, ou seja mais que a população de Natchex, no Mississipi. Eu trabalho no 19º andar, no Departamento de Apólices Comuns, na divisão de prémios de seguros, secção W, secretária nº861. Chamo-me C.C.Baxter. C de Calvin e C de Clifford. Mas a maioria das pessoas chama-me Bud. Trabalho na Consolidated há três anos e 10 meses. O meu salário mensal é de 94 dólares e 70 cêntimos. No nosso departamento trabalha-se das 8:50 às 5:20. O horário está escalonado por andares para que os 16 elevadores possam comportar os 31259 empregados sem nenhum engarrafamento sério."


Bud em "O Apartamento" de Billy Wilder, com Jack Lemmon e Shirley McLaine, 1960

RBL
CURTAS 1
(memórias, divagações, clichés e afins...)

Foi no princípio dos anos 90. Acabada a ajuda da URSS, Cuba virava-se para o turismo. Assim cheguei a Havana, cheio de curiosidade revolucionária e romântica pela lenda de Fidel e do Che.
Se a desilusão foi imediata ou se foi reforçando, ainda hoje não sei dizer. Dessa primeira vez, o que me impressionou foi a dignidade dos cubanos, que aprendi a distinguir da resignação com que primeiro a tinha confundido.
Vindo da Catedral, fugido da multidão de basbaques da Bodeguita del Medio, parei numa praça perto do Capitólio. Sentado num banco a verificar lentamente o conteúdo dos inúmeros bolsos do meu colete de turista, acercou-se de mim um homem, já velho, que me pediu um cigarro. Sem que lhe perguntasse nada, depois de agradecer, começou a falar: "Sabe, sou Judeu", disse, como se falasse do tempo. Perante o meu ar surpreendido, mas não inquisitivo, continuou – "Sim, mas aqui chamam-nos Polacos"."Já fomos muitos aqui, em Camaguey, em Santiago, em toda a ilha".
Enquanto falava sentou-se ao meu lado e foi explicando que tinha seis filhos, dois já casados, um que tinha emigrado para Israel, outro para Miami, que as coisas estavam muito más, que a fome já se notava, que as coisas tinham piorado muito sem o "dinheiro vermelho", que os turistas ainda eram poucos, que o trabalho era nenhum.
Que tinha passado a manhã na fila do Leite, mas não tinha conseguido nada, e estava preocupado, porque os dois mais novos ainda andavam na escola e não bebiam leite há quase uma semana.
Tentei evitar parecer incomodado, e olhei-o com o ar mais compreensivo que fui capaz. Disse-me que a sua Sinagoga se chamava Patronato e riu-se. Aproveitei a aberta para uma pergunta titubeante, dita em voz circunspecta, como se fosse o homem de alguém em Havana."Acha que agora é o fim de Fidel?" (o muro tinha caído há pouco, e ainda se julgava que o dominó podia continuar). Ao contrário do que eu pensava, depois de olhar com alguma complacência para o meu atavio quasi-hollywoodesco, respondeu sem rodeios:
"No, chico, Fidel aún es Fidel".
Envergonhado pela minha ingenuidade, tentei corrigir, amigavelmente e cheio de spleen: "E por que não te vais embora, viejo? Porque não foges?". E só nessa altura lhe vi algum fogo nos olhos e com um sorriso, que então julguei como cúmplice ou matreiro mas hoje prefiro dizer tropical, respondeu-me:
"Porque Cuba aún es Cuba".

RRP

domingo, julho 13, 2003

WEEKEND POST

Branca de Neve de João César Monteiro


RBL/SBL/JSV/RRP

sábado, julho 12, 2003

EMPREGO DO TEMPO

Plano fixo. Em passagem, lê-se em voz alta.
Por cá ainda não neva. Nem sabemos o que fazer com o tempo.


Plano final em Fahrenheit 451 de François Truffaut.

RBL
AXIOMA

Porque é que se é de:
Direita
Por deformação intelectual
Esquerda
Por deformação social

RRP
PETISCO DE FIM-DE-SEMANA

Trenette al pesto genovese

Ingredientes:
Dois dentes de alho
Sal
3 ramos de manjericão
1 malagueta
1 colher de sopa de pinhões
2 colheres de sopa de parmesão ralado (de preferência, fresco)
2 colheres de sopa de pecorino
1 dl de azeite (virgem ou extra virgem)
2 batatas novas pequenas
400 gr. de trenette (ou spaghetti)

Para fazer o pesto:
Descascam-se os dentes de alho e esmagam-se. Junta-se-lhes sal.
Lava-se o manjericão, retirando-lhe as hastes. Junta-se a malagueta. Deita-se tudo num copo misturador.
Adicionam-se os pinhões, deita-se metade do azeite e metade do parmesão. Passa-se 30 segundos com a varinha mágica. Acrescenta-se o pecorino e o resto do parmesão. Verter o azeite em fio, passa-se com a varinha mágica até ganhar consistência.

Para a pasta:
Cortam-se as batatas em cubo, deixando cozer durante 10 minutos. Juntam-se os trenette e espera-se que fiquem 'al dente'.

Para servir, escorre-se muito bem a pasta e as batatas, misturando-se o pesto enquanto estas estiverem bem quentes.

Bom apetite!

RRP/SBL

sexta-feira, julho 11, 2003

PROGRAMAÇÃO TV

Pouco depois da meia-noite a SIC promete voltar a dar (porque é que as televisões nos «dão»?) novos episódios do Sexo e a Cidade. Bendita silly season.

SBL
ENCONTRO COM A AUTORIDADE

Percebi logo que o polícia me ía mandar parar. Não posso virar ali? Ele debitou o Código da Estrada, informou-me que «não é permitido inverter a marcha em entroncamentos e cruzamentos» e, além disso, o sentido obrigatório estava sinalizado. Como à autoridade lhe agrada sentir-se poderosa, pedi desculpa.
Depois disseram-me que só não fui multada porque sou mulher. Assim seja.

SBL
Sex Jul 11, 10:52:29 PM, Hong Kong

O tempo parou. Quisemos que tudo parasse.
A noite em Hong Kong é assim. Maggie Cheung saiu para comprar massa.
A música, o compasso, o vestido... In the Mood for Love é assim, simplesmente sublime.
Maggie Cheung também.



RBL

Hã?

O Humanismo é a aceitação da incoerência.
(registado en passant par uma paragem de autocarro)

RRP
SEXTA-FEIRA
(banda sonora Sympathique, dos Pink Martini)

This is the end, my friend, the end... Bénard da Costa de manhã, para limpar a cabeça de uma semana, como quase sempre, perfeitamente incongruente...boa disposição com os Monty Python. No último dia da semana sou Brian, and my life is...

Brian: "Who cured you?"

Ex-leper: "Jesus did, sir. I was hopping along, minding my own business. All of a sudden, up he comes. Cures me. One minute I'm a leper with a trade, next minute my livelihood's gone. Not so much as a by your leave. 'You're cured mate.' Bloody do-gooder."

Brian: "Well, why don't you go and tell him you want to be a leper again?"

Ex-leper: "Ah, yeah. I could do that, sir. Yeah. Yeah, I could do that, I suppose. What I was thinking was, I was going to ask him if he could make me a bit lame in one leg during the middle of the week. You know, something beggable, but not leprosy, which is a pain in the arse, to be blunt. Excuse my French, sir, but, uh--"

Mandy: "Brian! Come and clean your room out."

Brian: "There you are."

Ex-leper: "Thank you, sir. Thanks-- Half a denary for me bloody life story?"

Brian: "There's no pleasing some people."

Ex-leper: "That's just what Jesus said, sir."


RRP

quinta-feira, julho 10, 2003

NA VOLTA DO CORREIO

Os leitores merecem ser bem tratados. Sobretudo aqueles - como o Luís Paulo Meleiro que simpaticamente nos escreveu - que perdem tempo para nos encontrar. Do Aviz passou para o Oceanos e daqui para o Google. Tudo para nos encontrar. Não merece uma resposta? Além do mais, ele não só sabe quem era Hipatia como nos revela que temos gostos parecidos. Um pormenor sem importância porque, mesmo se assim não fosse, seria bem recebido. Porque os gostos, esses, discutem-se. E muito.

SBL
I'M BACK

Regresso - e por cá alguma coisa mudou. Uma das maiores vantagens em sermos um blog colectivo é o facto de assim nos podermos revezar nos posts (a outra vantagem, caro Manel, é repartimos tarefas - as questões «técnicas» não são bem o meu pelouro...). Por isso o Hipatia não parou. Pode mesmo dizer-se que, neste caso, os homens é que ficaram em casa.

SBL
QUINTA-FEIRA
(banda sonora "Walking Spanish", Rain Dogs, de Tom Waits)

O princípio do fim da semana. Sinto-me no fim do After Hours (Nova Iorque Fora de Horas). As semanas podem ser como essa noite.

RRP

quarta-feira, julho 09, 2003

O MELHOR DOS MUNDOS POSSÍVEIS



Há uns tempos, Eduardo Prado Coelho escreveu no Público sobre uma revista de nome Magazine Artes. Dizia EPC que a mesma vinha preencher o vazio existente ao nível da crítica de artes em Portugal.
Fantástico! Deve ser uma maravilha, pensei eu (e pelo menos mais uns quantos). O nome era fraco, mas mesmo assim acreditei.
Procurei o tal magazine. Foi fácil. Muito fácil. Fácil demais, para algo de qualidade. Afinal vendia-se em todo o lado... ao lado das revistas coloridas.
Mesmo assim... continuei a acreditar. Abri a revista. O aspecto era medonho. A capa parecia a Bravo (+Adulta) que dantes se vendia (ainda vende?).
Continuei, muito a medo, mas sempre em frente. Sim, eu sei, o que interessa é o conteúdo... mas também esse...
Aliás se o objectivo era marcar a diferença e a qualidade... o projecto encalhou logo na escolha editorial. Convencido, voltei para trás. Ainda não era desta...
A sorte de uns (ou o azar de outros) é que existem sempre alguns mais atentos.
Afinal sempre existia outra coisa, essa sim de qualidade e sobre a qualidade: Pangloss. Sinceramente caro EPC, Magazine Artes não lembra nem ao diabo...
A Pangloss é, e de acordo com o seu sentido etimológico, a separação do ouro, do que tem brilho. Esta sim, é uma escolha editorial acertada para um publicação de referência.
O número #2, aquele que aqui apresentamos, é sobre fotografia e pouco mais (just that - Thomas Ruff, Arthur Omar, ...) e não sobre um todas as estreias e artistas de caca que povoam o nosso panorama artístico. O resto aparece no megafone, nas exposições e nos livros.
Dirigida por Delfim Sardo, a Pangloss é :bons textos, boas fotografias, bonitos alfabetos, bom papel, formato diferente...e em apenas duas cores... parece simples, mas a distância é irrecuperável.
Entretanto, desviado para um CCB sem dinheiro, fica por saber se Delfim Sardo continua com o projecto, sob pena de ficarmos entregues ao famoso Magazine Artes.
Consciente de já ter despertado o interesse pela Pangloss termino o meu post, com a certeza porém de que o mesmo não terá a visibilidade de outros.
Não me importo. Tenho um exemplar da Pangloss. Fico contente assim.
O Melhor dos Mundos Possíveis é difícil de encontrar e são apenas 3.500 exemplares (3 euros), mas também não tem na capa o famoso David Fonseca.

PS: Numa causa, que se aproxima rapidamente da blogosfera, espera-se a resposta. Pode ser que o Público nos diga alguma coisa (entretanto).

RBL
FAHRENHEIT 451

Se alguma vez me apanhares a ler um, sim, então, denuncia-me!



Ray Bradbury escreveu. François Truffaut filmou.
Houve, ou haverá, um tempo em que os bombeiros acendem fogos em vez de os apagarem.
Os livros são queimados porque fazem as pessoas anti-sociais.
Num outro mundo, que não existe mais, decoram-se os livros para poderem existir.
Hoje, os blogs, podem também ser isso. Existem, mas em lugar nenhum.

RBL

QUARTA-FEIRA
(banda sonora "Music For Evenings", Colossal Youth - Young Marble Giants)

E chegado a meio da semana sou Rick Blaine, sem Café American, sem Ilse, simply marooned...

Captain Louis Renault: What in heaven's name brought you to Casablanca?
Rick Blaine: My health. I came to Casablanca for the waters.
Captain Louis Renault: The waters? What waters? We're in the desert.
Rick Blaine: I was misinformed.


RRP
11.9 NYC SL

11 de Setembro. New York City. Spike Lee.
Revi Summer of Sam de Spike Lee. Numa cidade onde tudo corria insuportavelmente bem, SL teve que redescobrir uma história antiga de 1977.
Filme seguinte, a mesma história. No outro lado do país, SL tenta convencer Arnold Schwarzenegger a fazer o papel de um qualquer boxeur, de uma qualquer história, de outro qualquer tempo. Sem Belarmino Fragoso o projecto era menor. Projecto não acabado. A sua cidade chamou-o.
11.9 número imortalizado - para sempre - na cidade onde já nada acontecia. O seu contributo estava definido: 25th Hour.
A criação é assim mesmo. Angústia. Já lhe chamaram a estética do desconforto. Procura-se por aí.
A cena em que Edward Norton, em frente ao espelho, enumera todos os seus ódios é sublime. Tudo. Todos. As sucessivas imagens em travelling pela cidade são para revoltar. Não descansem. Exaltem-se. Para que tudo passe a acontecer.
A Cidade é tudo. 25th Hour não é um filme sobre uma qualquer história que até já esqueci. É um filme sobre Nova Iorque.
Não se abandona uma história por outra. SL trocou a história pela sua Cidade (não é sequer o caso de um(a) qualquer paixão). Se for preciso (é sempre?) arranja-se um pretexto.
A imortalização dos números, das cidades e das pessoas é assim mesmo. Nova Iorque quer ser assim.
Na Nova Iorque de agora todos se dão bem. Até com os polícias. Será bom?
Perguntem a Spike Lee, Scorcese e Woody Allen.

RBL
ESTADO(S) DA NAÇÃO

Na RTP 1 discute-se o Estado da Nação.
Os convidados são os mesmos, as conversas também (suponho). Não me demoro no zapping.
Mas tive sorte! Ao mesmo tempo que o ilustre Pires de Lima discursava alegremente, a caríssima ex-ministra Elisa Ferreira teimava em manter o ruído de fundo, insurgindo-se avidamente contra os argumentos do primeiro.
Ora bolas! Não há direito.
O efeito do ruído foi tal que o ilustre convidado abriu o livro do discurso argumentativo: "Deixe-me dizer o que eu quero".
A plateia acordou. A risota foi total.
Fantástico. Tempos houve em que se dizia: deixe-me dizer o que eu penso."
Por agora, em tempo de maiorias, diz-se "Deixe-me dizer o que eu quero".
Esperem. Desesperem. Ou façam zapping.

RBL

terça-feira, julho 08, 2003

JÁ PODIAM TER AVISADO

Dizem que Portugal anda deprimido. Porquê?
Estou farto é deste futuro. O auge são os toques polifónicos e a treta das fotografias nos telemóveis.
Onde é que anda o futuro programado para 2001?

I am not a moralist, and my film is neither a denunciation nor a sermon. It is a story told through images whereby, I hope, it may be possible to perceive not the birth of a mistaken attitude but the manner in which attitudes and dealings are misunderstood today. Because, I repeat, the present moral standards we live by, these myths, these conventions are old and obsolete. And we all know they are, yet we honor them. Why?
Michelangelo Antonioni na estreia do seu novo filme, L'Avventura, em 1960 no Festival de Cannes.

Um ano mais tarde, em 1961, realizou La Notte.



RBL
TERÇA-FEIRA
(banda sonora "A Love Supreme - IV Psalm" de John Coltrane)

Ao segundo dia sou Maynard, Peter Maynard, de McShade, Dennis McShade. A todas as questões respondo:
Pois!!

RRP
PRÉMIO MELHOR É IMPOSSÍVEL

Este sábado o Expresso encontrou o ministro da Cultura!
Afinal estava muito atarefado no seu gabinete - note-se a preocupação pela fotografia da sua (preenchida) secretária.
Pois é! O problema é que o Luiz Carvalho (o fotógrafo) não deve ter achado piada ao suposto gabinete do atarefado ministro Roseta.
Resultado? Um belo conjunto de fotografias do ministro Roseta no seu habitat.
Todas as suas actividades foram fielmente retratadas. Da reza ao chilrear, o conjunto é um deleite para qualquer apreciador da BBC Vida Selvagem.
Melhor era mesmo impossível.

RBL

segunda-feira, julho 07, 2003

SEGUNDA-FEIRA
(banda sonora "I Don't Like Mondays" dos Boomtown Rats)

O primeiro dia da semana faz-me sentir como o Gary Cooper no High Noon (O Comboio Apitou Três Vezes). Numa segunda-feira Lisboa é sempre Hadleyville...

RRP

sexta-feira, julho 04, 2003

AINDA HÁ MULHERES ASSIM?

Monica Vitti. M. Antonioni. Alguém se lembra das cinco essências...
A multidão acotovela-se para exigir 5% de imposto para os CD's.
Alguém me ajuda nos DVD's?




La Notte de Michelangelo Antonioni com Jeanne Moreau, Marcello Mastroianni e Monica Vitti.

RBL
PEDIDO (IMPLÍCITO)

O nosso "culto desmedido" produziu efeitos. Finalmente! As proclamadas invasões e contaminações estão a surgir.
Na Tradução Simultânea reagiu-se com fervor.
Esperam-se respostas. Como sinal do nosso apreço pelo referido blog continuamos a nossa invasão.
Decidimos por isso aceder ao desejo (implícito) do referido bloguista, e da restante blogosfera invadida, com mais Imagens desse "culto desmedido".
No entanto... corrigimos que "In The mood for Love" não é apenas um dos melhores filmes dos últimos dez anos...
O Cinema devia saber ser assim. Ser (e fazer) assim é que se torna complicado - pois é! não somos todos iguais.
Quem se incluir no grupo acima referido pode sempre dedicar-se à contemplação eterna...





RBL

quinta-feira, julho 03, 2003

PARA A BLOGOSFERA E EM FORÇA!!!

O núcleo de apoiantes-independentes do PS promete um blog no espaço de um mês. Não desfazendo, aqui sempre se arranjam melhores interlocutores do que no Rato. Aqui está a causa deles. O elenco promete...

RRP
SHERLOCK, CLOSEAU, POIROT

Abro o baú e encontro uma colecção da defunta, mas não esquecida, Kapa. Revejo os primeiros números e dou de caras com as "Conversas de ir ao bip" (como o Dicionário Khazar, com versão masculina e feminina). Terá sido esta a origem do Pipi???

RRP

quarta-feira, julho 02, 2003

FÁTIMA, ESMORIZ, CANAS DE SENHORIM E OUTROS QUE TAIS

Alguém me explica por que raio é estes senhores reivindicam a «promoção» a concelho? Pela minha parte, eu quero é ser freguesia...

SBL
COMMON PEOPLE
...ou aqueles que a Esquerda há muito esqueceu

O intérprete de serviço refere os Good Charlotte como "pequenos revolucionários rock". Sem lhes negar o epíteto, penso que seguem uma trilha à muito desbravada por Jarvis Crocker e os seus Pulp em Different Class, mais propriamente em "Common People":

She came from Greece she had a thirst for knowledge, she studied sculpture at Saint Martins College, that's where I caught her eye.
She told me that her dad was loaded, I said "In that case I'll have a rum and coca-cola, she said "Fine" and in 30 seconds time she said "I want to live like common people, I want to do whatever common people do, I want to sleep with common people, I want to sleep with common people like you". Well what else could I do, I said "I’ll see what I can do."
I took her to a supermarket, I don’t know why but I had to start it somewhere, so it started there. I said 'Pretend you’ve got no money’, but she just laughed and said "Oh you’re so funny", I said "Yeah. Well I can’t see anyone else smiling in here."
Are you sure you want to live like common people, you want to see whatever common people see, you want to sleep with common people, you want to sleep with common people like me.
But she didn’t understand, she just smiled and held my hand.
Rent a flat above a shop, cut your hair and get a job.
Smoke some fags and play some pool, pretend you never went to school.
But still you’ll never get it right ‘cos when you’re laid in bed at night watching roaches climb the wall, if you called your dad he could stop it all.
You’ll never live like common people, you’ll never do whatever common people do, you’ll never fail like common people, you’ll never watch your life slide out of view, and dance and drink and screw, because there’s nothing else to do.
Sing along with the common people, sing along and it might just get you through.
Laugh along with the common people, laugh along even though they’re laughing at you and the stupid things that you do, because you think that poor is cool.
Like a dog lying in a corner they will bite you and never warn you.
Look out they’ll tear your insides out. 'Cos everybody hates a tourist, especially one who thinks it’s all such a laugh and the chip stains and grease will come out in the bath.
You will never understand how it feels to live your life with no meaning or control and with nowhere left to go.
You are amazed that they exist and they burn so bright whilst you can only wonder why.


RRP

INVASÕES DE ESPAÇOS

A propósito de lugares que não existem - os blogs - planeiam-se invasões e esperam-se contaminações.
Sobre "Projectos para lugares que não existem - Zabriskie Point #02" de outros lugares e de outros realizadores.



RBL
ET IN ARCADIA EGO

Foi a greve dos correios, os feriados, enfim...Mas agora chegou.
Abro o pacote com cuidado acrescido para evitar qualquer acidente.
Olho a caixa e recordo.
As mãos tremem-me de impaciência.
O leitor de DVD espera, eu desespero - porquê tanto menu, música, advertência?
Aqui vamos, o primeiro episódio...
Revejo Reviver o Passado em Brideshead. Sem legendas. Sem mácula. Imagem perfeita. Som perfeito. Memória inteira.
A televisão já foi assim.

RRP

PS: Como penitência prometo escreverer um post a desancar os liberais e os liberalismos (ultra, neo, just). Por agora deixem-me gozar esta decadência, bela como só ela.
UMA MEMÓRIA DE CHUVA

Lisboa/Hong Kong, "In the mood for love", Wong Kar-wai

RBL

terça-feira, julho 01, 2003

'O MEU PIPI' E VGM

Bendito desmentido que nos deu aquelas «décimas de desagravo». N'O Meu Pipi, claro.

SBL
LIVROS PARA O VERÃO - 1

A ideia não é original, mas serve na mesma...

Para o PS - Manuscrito encontrado em Saragoça, de Yan Potocki (the book about Cabala editado em português pela Estampa na colecção livro B).

RRP