A propósito do Dia Internacional da Mulher
A tia Isabel, vulgo Isabel Liberata (assim mesmo, no feminino), já nos
deixou há muito tempo. À boa maneira dos Liberatos, era muito alta e magra.
Vendia tecidos nos mercados do Portugal que hoje se diz profundo. Conhecia
muitos lugares, muitas gentes, era muito divertida e uma excelente
conversadora. À noite, ao serão, fazia renda. Tinha um saco de plástico
duro, donde ia desfiando o novelo das linhas, e onde guardava o trabalho
quando o sono chegava. No inverno, o calor da lareira aquecia o saco e
tirava-lhe a forma. A tia Isabel ria-se quando o via esborrachado no chão.
Lembro-me de a ouvir dizer, com os olhos a brilhar de entusiasmo, que
"gostava de ser deputada". Mas a tia Isabel viveu deslocada no tempo.
Lembrei-me dela, a propósito do dia internacional da mulher, que dizem ser
hoje.
Manga de Alpaca