segunda-feira, outubro 25, 2004

O portuga

Está presente em todo o lado. No local do acidente, porque ia a passar e viu como tudo aconteceu. No local do crime, porque conhecia a vítima. À entrada do estádio de futebol, vaticinando o resultado e a autoria dos golos. À saída do estádio de futebol, assegurando que o arbitro estava comprado. Interrogado sobre a última medida do governo, invariavelmente opina que "tá mal". A sua leitura resume-se à Bola e à Maria, os seus passeios são no centro comercial. A propósito do fecho do túnel do Rossio, lá estava ele, a falar para os telejornais. Qual presidente da Refer, qual explicação de engenheiro! Isso agora não interessa nada! O portuga sim, e na pessoa do dono da pastelaria mais próxima da estação, lá estava ele queixando-se de que no balcão do seu do estabelecimento tinha ficado mais de metade dos croquetes, das empadas e das bolas de berlim. E isto era apenas o começo, porque, se no primeiro dia de fecho do túnel, alguns passageiros ainda ali passaram por engano, a partir daí, as coisas iriam ficar mesmo pretas. É assim, de facto: o portuga está em todo o lado, e quase sempre lixado.

Manga de Alpaca
Um Juíz feliz

Mais uma vez, o Juíz aproximava-se do seu gabinete de trabalho. Penosamente. Sabia que o esperavam pilhas de processos há muito acumulados. A transbordar das prateleiras já tortas com o peso, empilhados na secretária, espalhados pelo chão. Em molhinhos, atados com um cordel. Folhas amarelecidas e desfiadas pelo tempo. Sabia que o esperava o pó sobre os Códigos, cheios de papelinhos amarelos a assinalar os artigos mais usados. Sabia que o esperava o eco dos discursos sobre a Justiça lenta, sobre os seus agentes talvez parciais, talvez procurando protagonismo. Chegou. Olhou, e pasmou. Estaria enganado? Teria entrado no serviço ao lado? Não, porque os processos lá estavam, organizados, em pastas coloridas, este é prioritário, depois aquele, e a seguir aquele. Acomodados em estantes novinhas em folha. Na secretária, um computador ligado à internet, consulta rápida para tudo quanto é base de dados jurídicos. O que se passaria? Um milagre? Não, apenas chegara o professor de horário zero, agora assessor do juíz, habilmente ali colocado pelo primeiro-ministro, que acaba de descobrir como se matam dois coelhos duma cajadada, ou de como o funcionário público seja ele juíz, professor, técnico ou outra coisa qualquer, serve para tudo e para nada, e é sempre pau para toda a colher.

Manga de Alpaca

sábado, outubro 23, 2004

PORTFOLIO NY



A cidade para além dos arranha-céus que nos roubam o horizonte.

SBL

quarta-feira, outubro 20, 2004

Pedrinho diverte-se

É do domínio público que Pedro Santana Lopes é licenciado em Direito. Para além disso, desconheço se terá alguma formação em matéria de línguas estrangeiras. E, não sei porquê, não o estou a imaginar fluente seja em que língua for. Por isso, quando o vi ir por esse mundo fora no exercício das suas funções governativas, logo pensei "como é que ele se arranja ?". Depois, quando vi divulgada na blogosfera e no meu e-mail a fotografia do New York Times em que aparece junto a Bush e ao presidente da Guatemala, com uma legenda que o refere como o "unidenfied man", as minhas dúvidas adensaram-se. Agora, quando soube que o primeiro-ministro alemão por cá anda em conversações com Santana, tornei a pensar: "como é que eles se entenderão ?". Pois acabo de saber que, na conferência de imprensa que rematou as ditas conversações, Santana Lopes dirigiu algumas palavras em alemão ao seu homólogo. Quais seriam? Herr Schroeder, ya, nein, wie geht es ihnen, gutten Morgen ? Havia a "Anita na escola", "Anita vai às compras", Anita isto, Anita aquilo. Agora chegou "Pedrinho no Governo", "Pedrinho aprende línguas", em suma, "Pedrinho diverte-se".

Manga de Alpaca
PORTFOLIO NY



Confesso que nunca na vida tinha tirado tanta fotografia ao alto. Espero um dia conseguir ir lá mesmo acima. Como em Deus Sabe Quanto Amei.

SBL

terça-feira, outubro 19, 2004

PUBLÍTICA

Passo a explicar. Esta é a nova designação para a actividade deste governo. Só desta forma conseguimos explicar aquilo que têm vindo a fazer nestes últimos tempos: uma grande Promoção.
Não é que perceba muito de Política, mas sei que não é com este "produto" nem "amostra" que lá chegam...

JSV
Explicador, precisa-se

Terei lido bem? Terei entendido bem? Será que o ex-ministro da Educação, na Comissão de Inquérito sobre a colocação de professores, disse mesmo aquilo? Que tomou a decisão de não divulgar as listas de colocação quando elas ficaram prontas, para que a divulgação não coincidisse com as eleições europeias? Que ordenou aos serviços que, no entretanto, fossem fazendo testes para confirmarem a correcção das listas? Acrescenta a notícia do Público que foram essas listas, uma vez divulgadas, que deram origem a 36.000 reclamações. Será isso? Em pânico, releio o artigo. Sim, é isso que lá está. Uff! A minha inaptidão para os números não alastrou às letras. O que irá a Comissão concluir? Que o ex-ministro agiu com sentido de Estado, geriu convenientemente o processo e que as 36.000 reclamações não tinham fundamento? Irá dar continuidade ao delírio ministerial? Ou não? E, nesse caso, o que acontece a quem assim governa? Só é substituído? Alguém me explica?

Manga de Alpaca
É a economia, .........!

Tenho uma inaptidão genética para lidar com números. Temas económicos, deficites, taxas, põem-me os olhos em bico. Ao PIB não chego, nem fazendo as contas. Vou passando ao lado destas matérias, embora ouvindo, de quando em vez, as dicas dum assessor permanente que o destino me disponibilizou. Era este assessor que, ao tempo em que Vale e Azevedo desgovernava o clube do seu coração, resmungava entre dentes: "ele ainda há-de ir preso". E Vale e Azevedo foi preso e ainda lá continua. É este mesmo assessor que agora, ao ouvir as promessas do primeiro-ministro de aumentos de salários e de descidas de impostos, resmunga "como é que este gajo diz uma coisa destas?" e suspira " ai ai ... é só demagogia !". Pois é: eu acho que se o assessor acertou com o Vale e Azevedo, agora também sabe o que diz.

Manga de Alpaca

quarta-feira, outubro 13, 2004

Não havia nexexidade ...

Jorge Sampaio foi contemplado com um prémio pela sua acção em favor da união europeia. O prémio é monetário, por sinal em quantia apreciável. Interrogado pelos jornalistas, Jorge Sampaio respondeu que não irá doar o prémio, antes o usará em proveito próprio, porque, diz ele, os tempos estão difíceis. Confesso que não conheço o regulamento do dito prémio, e por isso não sei se se pode dizer que a acção premiada foi desenvolvida pelo cidadão Jorge Sampaio ou pelo presidente Jorge Sampaio. Em qualquer dos casos, tem todo o direito de ficar com o que ganhou. Mas podia ter sido mais discreto, e dar resposta mais consentânea com a dignidade do cargo que ocupa. Não havia nexexidade de ser tão plebeu... É por estas e por outras que desconfio que Jorge Sampaio jamais irá passar das palavras aos actos, jamais irá dar solução às preocupações que volta e meia nos transmite, jamais irá meter na ordem putos que andam a brincar aos governos. Jorginho deixará, definitivamente, de ser cenourinha e ficará, para sempre, um banana.

Manga de Alpaca

terça-feira, outubro 12, 2004

Uma questão de óculos

Lembro-me do meu avô me contar que, no seu tempo, não havia oftalmologistas nem oculistas. Com muita graça, ele contava que os óculos eram comprados a uns vendedores ambulantes que os transportavam de terra em terra, dentro duma mala. Aberta a mala, os compradores, literalmente às cegas, experimentavam uns, depois outros, e mais outros, até encontrarem um par adequado ao seu problema oftalmológico, que então se chamava, pura e simplesmente, "ver mal". Também me lembro de ter visto numa qualquer revista, uma fotografia deliciosa dum grupo de habitantes dum país africano, vestidos com trajes de cores garridas, todos a posar para a câmara em escadinha, qual fotografia de casamento. Em todos um sorriso rasgado, mostrando belíssimos dentes brancos. Em todos, um par de óculos, cada um de seu feitio, todos eles há muito fora de moda. Sempre me ficou a convicção que a imensa satisfação fixada pela câmara resultava do uso do adorno, raro naquelas paragens. Santana Lopes aparece sistematicamente escudado atrás de uns óculos. Comprados a um vendedor ambulante? Claro que não, que horror! Para corrigir algum problema de visão? Talvez. Para ficar bem na fotografia? Concerteza que sim! Com o adorno, Santana quer dar uma imagem de sério, de estudioso. Não consegue. A roupa de pessoa com dois dedos de testa não lhe serve. Tudo o que diz é de plástico. Sugiro-lho que meta os óculos no bolso e suma de vez.

Manga de Alpaca
OBVIAMENTE DEMITO-ME. Durante a ofensiva sobre o Iraque era frequente ouvir falar um certo ministro iraquiano (do qual não me lembro do nome). Está tudo controlado, vamos agora lançar uma ofensiva, isto amanhã está tudo resolvido. Era mais ou menos isto. Muitos se riram. Mas, contudo, o ministro foi mesmo o último a rir. O seu discurso fez escola. O seu nome ficou na história. Ambição refinada de certa camada, refinada também por coincidência, da população. Já não bastava o Peseiro com o seu discurso a la ministro iraquiano. Agora é o primeiro ministro. Não que esperasse dele alguma coisa de interessante... Agora estamos bem. Está tudo óptimo. Vamos pagar menos. Vamos receber mais. Vamos. Vamos. Fugir para a frente. 4x3x3. Mas ainda pior. Viram os adereços do discurso? A moldura com a fotografia do Papa. Os óculos inteligentes. O quadro, minha nossa. Que merda!

RBL

quinta-feira, outubro 07, 2004

O OUTONO DO MEU DESCONTENTAMENTO

Pois é, desapareci. Acho que no fundo estou cansada disto tudo. Não, não estou deprimida (como posso, com a quantidade de férias que tive?) - estou apenas sem paciência. Professores, programas informáticos, PR, PM, comentadores, ministros, assessores, jornalistas... Salva-nos o Inimigo Público. E a próxima semana que voarei - outra vez - daqui para fora... Vou mandando notícias.

SBL

quarta-feira, outubro 06, 2004

STYLE COUNCIL
Have you ever woke to find
The morning didn't come
Undelivered with the papers
Stolen by someone
...
Have you ever had it blue

RRP


VERDADE


Blow-Up, Michelangelo Antonioni, 1966

RBL

segunda-feira, outubro 04, 2004

SUSTENTABILIDADE

Typography is the skill that separates designers from dilettanti. Alex W. White

RBL

sexta-feira, outubro 01, 2004

BOM DIA


Le Mépris, J-L Godard, 1963

RBL