Bagão Felix mete atestado médico
Confesso que, inicialmente, não gostei de Bagão Felix. Não gostei do seu discurso com cheiro de sacristia, não gostei do seu olhar de jeito intimidatório. Mas todos temos uma face oculta, talvez mais simpática. E a de Bagão surgiu-me numa entrevista em que falou de si, das suas colecções (tem uma colecção de envelopes da correspondência que lhe é dirigida com múltiplas e engraçadíssimas variantes de Bagão), da sua actividade agrícola, do gozo que lhe deu participar num filme, em que aparece com uns óculos enormes de modelo mais que antiquado. Mais recentemente, quando vi Bagão Felix no governo de Santana Lopes, com as Finanças às costas, mais a Administração Pública, mais semelhante primeiro-ministro, sempre lhe notei o ar de quem não se sente confortável no papel que lhe coube. Em matéria de Administração Pública, nota-se que Bagão não sabe verdadeiramente do que fala, apenas fala porque ouviu dizer qualquer coisa: ouviu falar numa tal Bolsa de Emprego Público, e fala sobre ela, desconhecendo que a bolsa não adianta nem atrasa nada; ouviu falar em trabalho a meio tempo, e diz que é uma medida excelente, desconhecendo que a medida já existe há muito tempo, e tem uma taxa de utilização baixíssima; ouviu falar de descongestionar a administração, e fala de incentivos à saída da função pública, desconhecendo que a sua antecessora acabou com o incentivo de aposentação independentemente da idade. Em matéria de Finanças, Bagão vê-se e deseja-se para justificar a proposta de orçamento, e dar o dito do seu primeiro-ministro por não dito. E é por isto que não me admira a crise de hipertensão que ontem levou Bagão para o hospital. Não ponho em dúvida a sua competência nas matérias financeiras. Mas, no resto, costuma-se dizer "quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão?"
Manga de Alpaca