A esperança, outra vez
Há 30 anos, numa madrugada de Abril, voz amiga telefonou, aconselhando-me a não sair de casa. Tinha havido um golpe de Estado. Na altura, misturaram-se os sentimentos de alegria, porque se perspectivava o fim dum ciclo carregado de cinzentos, e de receio, porque o jogo era arriscado. Depois, prevaleceu a alegria transbordante, que me levou a deixar a atitude geralmente (muito) reservada, e a a ser um de entre os muitos milhares que percorreram as ruas no primeiro dia de Maio. Em trinta anos, muito se amadureceu, muito se conheceu, e as sensações de receio pelo desconhecido quase se desvanesceram. Também a alegria passou a ser contida, temperada. É que os caminhos são difíceis, e este canto da Europa já provou que lhe sobra em entusiasmo o que lhe falta em persistência. Mesmo assim, a notícia que o rádio do carro, inesperadamente, me deu na terça-feira à noite, foi uma lufada de esperança. Tinha a certeza que, mais tarde ou mais cedo, iriamos deixar de ter que suportar um primeiro-ministro ridículo. Felizmente que foi mais cedo. Agora a esperança voltou novamente, embora comedida, como aconselha a experiência.
Manga de Alpaca