Nostalgias
Há momentos assim: um sentimento de nostalgia que nos invade, motivado por
pequenas e grandes coisas que nem sabemos definir. Será pelo tempo que
passou e não volta? Será por olharmos à nossa volta e faltarem alguns que
sempre lá estiveram? Será por olharmos em frente e não nos entusiasmarmos?
Será por querermos mudar qualquer coisa e não sabermos o quê? Vou procurando
a resposta e não a encontro. Ou encontro? É que hoje tive uma confirmação:
não nos vão distribuir blocos-calendários! Há quanto tempo, no início de
cada ano, cumpro o ritual de receber o meu bloco AMBAR, rasgar o celofane,
abrir (com dificuldade) as molas da base e nelas enfiar as trezentas e tal
folhas do bloco-calendário! Depois, lá ficava ele na minha secretária,
companhia fiel, testemunha dos meus humores, ao lado do copo dos lápis,
sempre a dizer-me claramente em que dia estava. A alternativa: uma agenda de
secretária PAPIS, que se abre com a ajuda duma fita de seda (?) amarela,
pondo perante os meus olhos não apenas o dia presente, como o saudoso
bloco-calendário, mas toda a semana, deixando para mim a tarefa adicional de
me situar no dia certo. Noto ainda que PAPIS tem o I substituido pela imagem
dum rolinho de papiro. O tradicional AMBAR deu lugar ao design pobrezinho do
PAPIS. Revelou-se hoje uma das fontes da nostalgia. Outras continuam
ocultas.
Manga de Alpaca