TransparênciasDiz-se que, dos planos do Governo para a Administração Pública, faz parte a selecção de dirigentes através de concurso. Para assim serem garantidas a transparência e a isenção. Pois bem: não sendo a ideia inovadora, passo a descrever a cena do sorteio do júri de tais concursos, primeiro passo tido como garante da tal transparência. À volta duma mesa, sentam-se uns senhores, obviamente respeitáveis, que representam os respectivos ministros. Depois, há um senhor, igualmente respeitável, que é o presidente da comissão de sorteio de júris, assessorado por dois funcionários aos quais cabe, a um, fazer a acta da reunião, a outro, proceder ao sorteio. O sorteio
efectua-se por um sistema de bolinhas de madeira metidas dentro duma bolsa de flanela preta, materiais que um destes funcionários, zeloso, se encarregou de comprar numa retrosaria da Rua da Conceição. Sim, da Rua da Conceição, porque toda a cena se passa em Lisboa, perto da Baixa, para onde convergem os representantes de todos os Ministros e Presidentes de Câmara. A cena dura mais ou menos horas, consoante o número de isentos júris a sortear. No final, com os ouvidos cheios do tric tric do agitar das bolinhas dentro do saquinho de flanela, os representantes dos senhores ministros são depositários duma acta que garante que tudo o que se vai passar daí para a frente é límpido e transparente. Ou seja, a transparência sai dum saco de flanela preta.
Manga de Alpaca