Um choque tecnológicoEntão é assim: há um programa, um software, no qual se vão introduzindo uns dados. Depois o programa trabalha os dados, e dá-nos um produto. Neste caso concreto, há um colaborador meu que, qual formiguinha, ao longo de cada mês, vai introduzindo dados num programa para, no final, obter como produto o dinheirito que cada um vai receber como ordenado. Às vezes, ouço-o protestar. Quase sempre pelo mesmo motivo: quando tem que alimentar o dito programa com as muitas, muitíssimas, horas de trabalho extraordinário prestadas (?) pelo pessoal de apoio colocado nos gabinetes dos nossos membros do Governo. Ontem o protesto foi mais violento. Sabendo que ele é um sportinguista ferrenho, calculei que estivesse em desacordo com a táctica para o derby. Mas não. O que aconteceu é que ele tinha acabado de verificar o ordenado que irá caber ao motorista do nosso governante, um escravo (refiro-me ao motorista) que trabalha todos os dias, de 2ª a 6ª feira, sábados, domingos e feriados, sempre das 7 da manhã à meia-noite. O nosso homem vai arrecadar tanto como um director de serviços. Visto isso, o diligente colaborador desligou o computador, arrumou a papelada, e disse-me que tinha que sair mais cedo. Eu compreendi. Sabia que o esperava uma hortita onde ele ia refazer-se do fortíssimo choque tecnológico.
Manga de Alpaca