Solidão
Quando cheguei ao Jardim das Janelas Verdes, no final duma tarde de domingo, a senhora já lá estava. Sentada num banco do jardim, sozinha, a olhar para o rio. Na casa dos setenta (ou dos oitenta ?), vestia uma saia preta, com grandes flores encarnadas. Sapato-sandália branco, uma mala de mão preta. O cabelo, branco, bem cuidado, revelava o recurso a permanente ou a mise com rolos pequeninos. Usava colar, pulseira, vestígios de tempos mais desafogados. Quase não se mexia, só olhava em frente, para o rio. Até que se levantou, passos curtos, e, lentamente, começou a subir o jardim. Sozinha. Deteve-se uma ou duas vezes quando os pombos lhe passaram ao lado. Imaginei-a a fazer o caminho de regresso, a subir depois uma escada antiga, e a entrar numa casa onde não estava mais ninguém. A regressar a pé, ou, quem sabe, de eléctrico, porque ao domingo se pode fazer uma extravagância e dar um passeio maior.
Manga de Alpaca
Quando cheguei ao Jardim das Janelas Verdes, no final duma tarde de domingo, a senhora já lá estava. Sentada num banco do jardim, sozinha, a olhar para o rio. Na casa dos setenta (ou dos oitenta ?), vestia uma saia preta, com grandes flores encarnadas. Sapato-sandália branco, uma mala de mão preta. O cabelo, branco, bem cuidado, revelava o recurso a permanente ou a mise com rolos pequeninos. Usava colar, pulseira, vestígios de tempos mais desafogados. Quase não se mexia, só olhava em frente, para o rio. Até que se levantou, passos curtos, e, lentamente, começou a subir o jardim. Sozinha. Deteve-se uma ou duas vezes quando os pombos lhe passaram ao lado. Imaginei-a a fazer o caminho de regresso, a subir depois uma escada antiga, e a entrar numa casa onde não estava mais ninguém. A regressar a pé, ou, quem sabe, de eléctrico, porque ao domingo se pode fazer uma extravagância e dar um passeio maior.
Manga de Alpaca